segunda-feira, junho 27, 2011

Direto do século XVI...


27 de Junho de 1567


A VÊNUS NO RENASCIMENTO
E O REAL PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE



Por Juliana Falcão,  de Florença.



Panorama social

O desenvolvimento do capitalismo e a emersão de um Estado moderno transformaram as relações econômicas, sociais e familiares da Itália Renascentista.

É em Florença que se encontram as origens do capitalismo moderno e a redefinição da pintura e escultura como artes livres do conceito de mero “artesanato”.  Há uma ideologia conservadora, que acredita que nós, mulheres, devemos ser excluídas do ofício das artes e, desde pequenas, do ensino público, que envolve o estudo de cálculo e matemática. Temos nesses tempos apenas dois caminhos a seguir: casar-nos ou nos tornar freiras, sendo ensinadas desde cedo a nos manter castas, fiéis, habilidosas com as tarefas do lar e extremamente religiosas, mesmo numa sociedade cada vez mais secularizada.

O começo do século XV, de acordo com relatos de parentes, eram tempos de prosperidade econômica e social, e a arte passou a adquirir características seculares. Ricos comerciantes tornaram-se patronos de grandiosas obras, que embelezavam a cidade, agindo assim como verdadeiros cidadãos. Tal cidadania, porém, se restringia a uma pequena elite de homens ricos, que se separava das mulheres – mesmo sendo igualmente ricas e privilegiadas. Para os renascentistas, que se inspiram na Antiguidade Clássica, nada mais coerente do que se  inspirarem também na democracia ateniense, que não definia a mulher como cidadã. Então, camponeses, classes urbanas mais pobres e nós, mulheres, não temos quase nenhuma integração – nem, em consequência, contribuição no renascimento cultural.

As virtudes esperadas de uma mulher são a castidade antes do casamento, a pureza, a passividade, a fidelidade ao marido e a maternidade.  Leon Alberti, arquiteto, pintor e humanista florentino, diz que “dificilmente nos seria digno de respeito uma mulher ocupando-se juntamente com homens em um mercado, às vistas das pessoas”. Pertencemos, portanto, ao lar, cuidando da família e longe da vida pública... Revoltante!

Há um grupo de mulheres humanistas e pensadoras, é verdade. Houve. São de famílias ricas ao nordeste italiano, cujas obras se referem às condições femininas. Elas, porém, enfrentaram mais limitações que os homens. Como a única opção era a de se casar, a fim de continuar estudando muitas se retiraram para claustros ou se isolaram da sociedade. Uma pena!

A educação

Educação e erudição devem ser características dos grandes artistas, pensadores e poetas.
Embora os pensadores humanistas defendam certa igualdade na educação entre as filhas dos burgueses e patrícios abastados, a prática de se mandar as meninas à escola pública (bons tempos!) foi sendo descontinuada, infelizmente. Hoje em dia, elas recebem sua educação - que se foca em princípios cristãos e ensinamentos morais - em casa ou em conventos. São treinadas para o lar ou para a vida religiosa.

A educação “pública”, atualmente destinada apenas aos rapazes, consiste em leitura, escrita e aritmética, visto que a matemática é essencial para lidar com negócios e comércio, bases da nossa sociedade florentina.

MASACCIO, A Trindade
Filippo Brunelleschi, por exemplo, foi pioneiro, dando início a um novo estilo arquitetônico baseado nos ideais greco-romanos, e a uma nova geração de arquitetos.  Para tanto, não foi um mero aprendiz, mas, sim, recebeu uma boa educação liberal, pública.

 Tais conceitos matemáticos também estavam integrados aos princípios de representação artística do século XV, o da perspectiva. A matemática ainda serve de suporte para as projeções gráficas. Dessa forma, compreender seus princípios permite ao artista criar, em uma obra bidimensional e plana, a sensação de tridimensionalidade, com profundidade e mais próxima da realidade.

Seria simplória a afirmação de que as mulheres, por causa de sua formação, jamais entendam as “novas” obras, mas o novo estilo pictórico depende de certo conhecimento das ciências de um telespectador instruído, que pode mais claramente, em relação às mulheres, captar as intenções do artista e as ilusões contidas na obra.

A pintura tornou-se para nós uma atividade que requer muito mais a intuição e experimentação do que a lógica e o estudo. Enfrentamos, portanto, diversas limitações em vários aspectos relacionados ao renascimento cultural, vivendo na “margem” da sociedade. Restam-nos apenas o bordado e a costura! Que absurdo!


Representações da mulher real


4 - GHIRLANDAIO, Domenico
Retrato de Giovanna Tornabuoni


3 - HOLBEIN, Hans 
Jane Seymour, Rainha da Inglaterra
Mesmo nessa sociedade religiosa e patriarcal, podemos ver uma mudança nas representações.  Secularizada, a arte dos retratos individuais tornaram-se extremamente populares, retratando o patrono em imagens que descrevem sua posição no mundo: rico, de alto nível social, benquisto entre a sociedade, blábláblá...  E nós, mulheres? O destaque vai apenas para nossas roupas bem bordadas, nossos bons modos, nossas joias... Afinal, com casamentos de interesses, que visam apenas ao lucro de ambas as partes, pouco interessa nossa forma física e beleza, mas, sim, se revelamos ou não a riqueza de nossos maridos. Uma visão atenta aos elementos contidos num desses retratos podem indicar certa posição social, trazendo prestígio ao cidadão, ou seja, ao marido.
O retrato em perfil, que enfatiza um desenho linear e bidimensional, apenas “mapeia” as superfícies do corpo e da vestimenta em detrimento da volumetria da figura, resultando numa imagem quase esquemática. Além disso, como devemos ser submissas aos nossos maridos, ao Estado e à Igreja, o perfil é ideal para a representação feminina, pois o olhar, como que desviado, não se encontra com o do observador.

A obra acima, de número quatro, enfatiza a posição da nobre na linhagem de seu marido, com o brasão de sua família (triangular) bordado em sua vestimenta e a inscrição ao fundo, que refor
ça uma conduta virtuosa e qualidades espirituais (CHADWICK, Whitney).

 As mulheres (ricas) retratadas em frente a janelas, assim como Giovanna Tornabuoni, tornam-se meros objetos de contemplação, pois são, na realidade, banidas de se exporem às vistas públicas em janelas e de usarem vestidos suntuosos, cheios de ornamentos.

Os retratos em três quartos tornaram-se popular, a princípio, apenas entre as figuras masculinas. Apenas pelos anos 1470 que os retratos femininos seguiram essa forma.

A imagem de número três, um exemplo de retrato em três quartos, revela a rigidez da mulher com os lábios estreitos, papel de hábil dona-de-casa e educadora (ECO, Humberto).

A Vênus


Pode parecer uma grande contradição minha, meninas, dizer que somos destinadas ao claustro – seja numa casa luxuosa, como donas de casa, seja num convento – e, ao mesmo tempo, expor-lhes inúmeras obras de fêmeas igualmente expostas, nuas.

Porém, a redescoberta da cultura greco-romana na Renascença, como dito anteriormente, restaurou o nu nos repertórios dos artistas. Figuras nuas com base em modelos antigos aparecem na Itália, já em meados do século XIII, e por meados do século XV, tornaram-se símbolos da antiguidade.

Pintores venezianos, segundo minhas viagens, inventaram uma nova imagem da Vênus como uma figura reclinada, deitada nua em uma paisagem ou interior doméstico, sempre acompanhada do tecido drapeado. Embora elas reflitam as proporções de estatuária antiga, as imagens atuais destacam o calor sedutor do corpo feminino, em vez de sua geometria ideal. São verdadeiras deusas, musas. Como o interesse em temas mitológicos aumentou, os artistas encontraram novas abordagens para a representação de figuras nuas, de homens e mulheres (SORABELLA, Jean). Imaginem se essa liberdade ocorresse também na vida quotidiana!

Tomemos por exemplo a obra em destaque, Vênus de Urbino, de Ticiano. A figura principal encontra-se em primeiro plano, e, devido a um jogo de luz, suas formas e sua beleza são destacadas. É enigmática, misteriosa, transparecendo calmaria e serenidade, além de uma sensualidade visível. Além disso, para aumentar o erotismo, Ticiano utiliza a imagem do cachorro – símbolo da luxúria. No segundo plano, duas mulheres serviçais, cabelos presos, vestidas, mostrando-nos que na vida real a condição feminina é bem diferente, aprisionada e subserviente.

As Três Graças, de Rafael, na imagem de número um, são as três filhas de Zeus: Aglaé (Brilho), Eufrosina (Alegria) e Tália (Floração).  São representações femininas, cheias de beleza, com pureza no olhar, pele branca e macia e formas volumosas com equilíbrio, representando a doçura, a grandeza e a harmonia da obra.

1 - Raffaello Sanzio, As Três Graças
Essas “Vênus celestiais”, entretanto, são figuras idealizadas, mitológicas e pouco representam a realidade, que, por mais que seja descrita com perfeição técnica num retrato, procura muito mais celebrar o aspecto religioso do que um padrão de beleza construído pelas necessidades humanistas.

 Sabemos então, meninas, que tais musas pouco têm a ver com nossa realidade, por mais que desejemos.  Seus corpos são contrapontos à expressão privada, intensa, de decifração psicológica nada fácil de ser compreendida, e muitas vezes propositalmente misteriosa de nós, mulheres reais (ECO, Humberto).

quarta-feira, fevereiro 23, 2011

A primeira postagem a gente nunca esquece...

Olá!


Já adianto e peço sua mais generosa paciência... Ainda estou meio confusa, não sei exatamente o que postar, ainda tenho um medinho de me expor ao ridículo.
Bem, posso falar um pouquinho de como a moda entrou na minha vida? Well, como ninguém ainda se pronunciou, falarei e muito... Vejamos se isso quebra o gelo.


Tudo começou historinha-infantil-feelingz  entre os retalhos da minha avó. Dona Margarida sempre fez de um tudo... Já vendeu vela em porta de cemitério (juro, #chorolitros sempre que me conta), já foi banqueteira (fez a mesa de doces e o bolo da neta do ditador ex-presidente Castelo Branco) e costureira, obviamente... É de uma época em que as mulheres (principalmente as de famílias humildes) tinham que se virar nos 30, fazer de um tudo... Ser prendada.


Sempre passei as férias vendo pela casa os bastidores, papéis-carbono e desenhos dela (os quais, aliás, ganhei e tenho até hoje). As peças de crochê e tricot sempre inacabadas, as agulhas de todas as cores e calibres, os metros e mais metros de fazenda (até o cheiro me fascinava) a máquina de costura a todo vapor, sempre fazendo o seu tec tec tec tec... Ah, minha infância!


Infelizmente, a aborrescência foi chegando e com ela as mudanças no corpo e gostos. O Indie Rock foi entrando na minha vida, junto com os All-Stars, o preto, munhequeiras, camisas de banda e de personagens (confesso que uso até hoje. Heresia, eu sei) embaixo de blazers. Uma farofa. Por incrível que pareça, não me envergonho disso. Acho que a adolescência (inclusive a "pré") foram os períodos em que eu mais testei e aprendi. A moda estava muito presente em minha vida. Devorava tudo o que podia a respeito, tentava captar tudo o que via nos video clipes de minhas bandas favoritas para que se refletisse no que vestia. Fuçava (ainda o faço, shhhh) o armário da minha mãe, aceitava (e pedia às vezes) de bom grado qualquer velharia peça vintage das minhas avós... Não tinha medo de experimentar.


Ah, mas o tempo passa não?! A vida deu uma de suas traiçoeiras voltas e me vi com problemas muito maiores do que o que iria vestir no dia seguinte para expressar da melhor maneira minha personalidadezzzzzzzz zzzzzzzzzzz . Tive que, como minha querida vozinha, me virar nos 30. Não tinha mais o luxo de passar horas e horas pesquisando, fuçando e respirando moda. Eu já estava crescidinha e, poxa, moda era perfumaria (ABSOORDOO), sobreviver era o mais importante.
Passei muito tempo rejeitando tudo relacionado ao assunto. Me fechei. Acho que, nessa época, a única arte que tinha espaço na minha vida era a música, ponto. Meio triste isso... 


Sei que esse período teria sido crucial para aprender mais e me aprofundar. Poderia ter um conhecimento em moda muito maior, eu sei... Estava muito mais amadurecida. Mas simplesmente não era o momento.
Éramos como melhores amigües amigas que, por um motivo de força maior expressão breeegaaaa, deixaram de se falar. De uns tempos para cá voltamos a nos falar de novo, e, FELIZMENTEEEE UHULL  felizmente, redescobrimos como nossa amizade era boa e como valia a pena ser retomada.


É, gente... Voltamos. A amizade está mais forte do que nunca. Ok, "amizade" é um termo pretensioso, visto que não há uma reciprocidade... Admiração talvez? Enfim,a Arquitetura, igualmente sedutora, tentou me desviar do meu caminho (por mais que não acredite nisso) e é claro que ainda sinto um apertinho no coração quando ouço falar da maravilhosa FAU USP, afinal, fiz um ano de cursinho para tentar passar na mardita. Por uma fatalidade aka meu pai ter se esquecido de pagar a taxa de inscrição da Fuvest, pagamento esse que ele fez questão em realizar para mostrar-se mais presente não rolou. O importante é que eu e a moda voltamos e agora é pra valer. 


SE VOCÊ SOBREVIVEU ATÉ AQUI, obrigada e meus parabéns.


Obrigada por ter lido esse trechinho da história da minha vida, a gênese da minha trajetória na moda (exagerada, eu sei) e a minha primeira postagem.


Inesquecível.